quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A história da contente Maria


Enquanto as mulheres
bordavam os cachos de seu Francisco
e as crianças pintavam areias
diante o céu que se erguia e se coloria
Dos canaviais
ali de trás daquelas casas
todas tão pequenas qual pedrinhas de lajeados
ouviu-se um choramingado que abria o amanhecer.

Era ela tão morena
Toda assim sem nem caber de pequena
Com um terno tracejo sorria
E por ser tão emariada
Que sua doce Ana, caiana, mãe
Resolveu lhe chamar de Maria.

Quanta luz se fez no sertão
Toda gente apertava os olhos
Tão grande era o clarão
De quando passava Maria

E toda a terra a amava
Em seus olhos de beterraba
Seus cachos trançados de rio de prata
E na sua singela roupa de lona de circo
qualquer princesa que se cruzava
Maria sorria, pois sabia das asas que tinha.

Mas Maria, que tanto sorria
Era só o único alumio do brejo da gota.
O céu puramente azul
sem qualquer tipo de imaginação de algodão
rachava o solo sempre que ela se ria
secava as floridas cestas da vila
sempre que ela corria
matava – de sede – enquanto Maria vivia.

Maria que era assim, um cirquinho de conchinhas
passou... passada fez de sua lona
um imenso vestido de estrelas.
Com sua renda no cabelo
mantinha seus olhos pequenos
e o leite que escorre de sua boca, raiava o dia como sempre

Tanto sois dessa menina
tantos sonhos dessa meninona
tantos sorrisos dessa mulher
trincava cada menino, cada mulher, cada senhor
e a vida, imitando algo que não se via
escorria.

Uma história tão assim
cheia de uma luz que ardia de olhar
secou o sertão, o dissolveu em grão
Ela, foi aclamada enquanto descansava
no avarandado da alegria.
Com as bocas secas, era rogada:
- Então, não sorria Maria.

Um comentário: