sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Sing it for the world"

Mas como?
Como cantar ao mundo
o que você próprio não ouve
quando as palavras, letras e notas
não encontram o som preciso pra cantar
aquilo que se sente.
E isso tudo fica preso
essa alegria que chega doer
é uníssono com essa angústia sem melodia.
Não há sinfonia que explique a sensação
de sentir algo insensível.
Cantar ao mundo, para os homens e as mulheres
cantar até enlouquecer aquilo que te aperta o peito
botar pra fora esse peso, essa passagem, essa vida.
Isso não deveria soar como tristeza
e me desculpem se os faço chorar
mas, é que um sentimento quando é insensível
dói como se fosse a primeira dor da vida.
Não tem explicação. Não tem razão. Não tem origem.
Só queria que fosse possível
que tudo se acabasse numa simples canção.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O tempero de quê?

Eu diria que teria sido em Istambul, pela sua cor amarela, pelo seu cheiro de cravo pela poesia, mas não...

Eu conheci um homem que tinha, entre suas predileções, no toque dos dedos o sabor de todos os cheiros, conhecia através da textura de um tempero o solo de um país distante e o gosto de toda a gente que lá vivia. E ele me ensinou coisas sobre o tempero que damos às comidas, e a forma como se deve saborear a vida. Disse, assim como quem prepara uma fatia de pão para dar a um amigo, que através de petiscos e pequenas refinarias culinárias, que tudo se inicia por uma bela e saborosa entrada, que ao se convidar o paladar de alguém para palavriar sabores oferecemos pelo leite e pelo o açúcar, pela mãe e pela mão, pelo o amor e pela flor, um charmoso sorriso indecente da vida; é na entrada de uma refeição que proporcionamos e preparamos a língua para experimentar os sabores, calores e texturas de uma bem temperada refeição principal, como qual uma viagem, o antepasto seria o desejo de viver uma aventura inexplicável.

E no continuo movimento dos talhares, adentraríamos às pratas maiores para consumir a infinidade de temperos, odores e dores de tudo aquilo que envolve uma longa e complexa refeição, com seus grãos, com seus molhos, exageros e aguçadores sentidos. A refeição principal seria o beijo molhado pela boca adoçada pelo leite e pelo açúcar, reinventados na mãe e no amor, na mão e na flor.

E quando satisfeito, quando o corpo pede um descanso pra tanta gastronomia, quando os barulhos naturais daquilo que passou e continua passando em movimentos necessários para a vida, a sobremesa se serviria como se quisesse ensurdecê-lo, como se te conquistasse a boca, tranqüilizasse o corpo e te fechasse os olhos num prazer momentaneamente infinito... o descanso dos deuses, um manjar de coco.

Eu diria que teria sido em Istambul, na Itália, em Portugal ou no Brasil... mas a comida que me servem passa por dentro de mim. E hoje eu sou o leite das tuas bocas, sou o resquício dos teus aperitivos, almoço e janta passada, o contínuo caminho peristáltico da vida “não olhe pra trás” disse-me esse homem. Não olhe mesmo e não se esqueça de falar dos próximos países que irá visitar... O sabor inexplicável do universo é o sentido maior, mas para tal precisará entender que pimenta, cravo, canela fazem parte do tempero que dará o dom e o sal para sua e só sua Receita Fundamental. Bom apetite!