tag:blogger.com,1999:blog-75980335274190146572024-02-02T00:41:44.681-08:00Pra não chamar MariaLucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.comBlogger54125tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-39823084620503344472016-06-28T07:08:00.002-07:002016-06-28T07:09:39.816-07:00Depois de Você<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlz-dw-Hj1XOjd0wikI6GOPih0ILziW6zNQtbTnx2NuOTPz6w4xuNg330BdqI-hMvwLDSgFbae11-1fF1P9fHsIrl2eJEv87hvR-mKPdV2KiN2lePlQyB9x6ENTaaxJIow3RB0qTrGPvQ/s1600/Sali+a+caminar001.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlz-dw-Hj1XOjd0wikI6GOPih0ILziW6zNQtbTnx2NuOTPz6w4xuNg330BdqI-hMvwLDSgFbae11-1fF1P9fHsIrl2eJEv87hvR-mKPdV2KiN2lePlQyB9x6ENTaaxJIow3RB0qTrGPvQ/s320/Sali+a+caminar001.jpg" /></a>
(Imagem: Troche - "Salir a Caminar")
[a TV fora do ar chia a expansão barulhenta do universo quando a programação subitamente volta ao ar]
- [...] Claro que não!
- [entrevistador faz uma pergunta em off
- São tantas coisas que aconteceram, acho complicado dizer aqui se houve uma causa clara.
- [...]
- Veja bem...
- [...]
- Sim, mas veja bem...
- [...]
- Concordo, mas veja bem...
- [...]
- E depois de você, o que é que há? Depois de você há ruas que se espalham por aí cheias de gente e de carros tão desorganizados quanto os nossos pensamentos. Depois de você tem serras, árvores, tem bicho deitado, tem bicho de quatro e de pé. Tem mar, espelho do céu quebrado. Depois de você tem nossa origem, tem nossa história, tem tudo aquilo que nos fez algo, tem rosas de barro cheirando artesanato novo. Depois de você tem cheiros, tem sabores, tem fé... Depois de você tem fé, tem a fé que é preciso ter para sobreviver, por que o que seria de nós sem os deuses que criamos? Depois de você tem o passado, tem o tempo parado rente ao futuro que quer cada dia ser maior. Assim, separados por um muro. Depois de você tem meio dia inteiro de diferença e sempre que eu amanheço você anoitece e a gente não se encontra. Porque o dia e a noite se amam, têm saudades, têm vontades, têm desejos, mas não se falam, não se compreendem, não se encontram nessa língua estranha que se usa. Depois de você tem uma infinidade azul, tem o espaço, a solitude, o pensamento. Depois de você tem gente que parece índio, montanhas e até neve. Depois de você tenho eu, de costas... Depois de você eu me encontro, vejo minha própria nuca ansiosa, olhando pra frente, tentando enxergar o que há depois de você.
- [...]
- Sim... Me desculpa, mas você trata esse assunto como se fosse qualquer assunto de auditório.
- [...]
- Se eu estou ou se eu quero?
- [...]
- Claro que não!
[Entra a música Jabitacá tocando ao fundo]
“Mas não me deixe navegar
Se já não crê no encanto deste mar
Se nossas manhãs se perderam nas ruas sem jardins”
[Entram os comerciais].
Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-85355646028285132282015-05-06T16:00:00.000-07:002015-05-06T16:00:04.386-07:00O Trono de Cimento e SalAs luzes lá embaixo corriam vermelhas
E o céu se acobertava sobre a neblina típica
Daquele sentimento.
É sempre tudo escuro e frio aqui de cima
E olhando pra baixo
O meu olhar poderoso, vidra
Sobre todo flash de luz que escapa.
O olho olha sem medo
A retina treme tamanha é seu poder
É o vento, a fumaça, o gelo - sou Rei de mim.
No meio do caminho, um violão lounge
Dedilha o que eu não quero ouvir
E é só o tempo que passa
E é só a pele que rasga
E é só o ar que falta
O vazio que fica
A ausência
De mim
Sua...
As estrelas e suas luzes são tão longe
E o céu agora some na neblina típica
Desse sentimento.
O declínio de um império de olhos
Dá-se em meio às luzes vermelhas
Trincado: sou de vidro também!Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-69089144444670855432014-02-18T13:12:00.001-08:002014-02-18T13:12:16.109-08:00O retorno<div class="MsoNormal">
Eis que assim, de
repente<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Dá-se a luz e o som
do começo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora o tempo está
parado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E eu sinto dentro
de mim<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A força de querer
nascer<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E tudo a minha
volta<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
É luz, é cor, é som,
é vida<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E eu sou calor,
toque e sentimento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora somos eu e
vocês<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O pai e a mãe e as
mãos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Do ABC às tintas do
alívio<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Dos pequenos
sapatos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Aos conselhos
sinceros<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Conselhos que hoje
eu entendo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Que realmente eram
para o meu<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Próprio bem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora somos nós e
vocês<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Outra casa, outras
pessoas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Outras vidas...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora que somos
quem somos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sou tua pele, o
olho dele, a boca dela<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O nariz dele e as
mãos dele<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O sorriso dela e a
inteligência dela<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sou ele... sou
ela... somos muitos...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora que somos
quem somos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Dá-me aqui um
abraço mãe,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Dá-me aqui um beijo
pai,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Deem-me aqui o conforto<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Para onde eu sempre
hei de retornar.<o:p></o:p></div>
Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-10410239159704251492014-01-03T12:44:00.003-08:002014-01-07T16:10:09.721-08:00Depois do Vermelho<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Após matar sua sede, a mosca, que
estava sobre a pequena poça de água que restara na pia limpa e organizada da
cozinha, alçou voo e zanzou pela porta e atravessou a sala, escapando por pouco
do tapa desatento dado por Sônia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Curiosa! Era o nome que podia se
dar para aquela tarde quente de terça-feira. Sônia, uma mulher de 41 anos, mãe
de duas filhas, esposa de seu marido. Nesta terceira tarde da semana, sozinha
em casa, Sônia zanzava pela internet quando se deparou com um site que lhe chamou
a atenção. Estampava a capa do site um homem com seus 26 anos que mirava para
si mesmo através de um espelho a lente de uma máquina fotográfica e dizia:
arte erótica e descompromissada. Eram cenas eróticas, não pornográficas, de
mulheres que haviam se deitado com aquele rapaz. Poses sensuais; seios focados;
bocas umedecidas; coxas suadas; pelos arrepiados. Algumas vezes ele se
fotografava junto dessas mulheres e raras vezes até dividia o foco com outro
homem. “<i>Que curioso...</i>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Era incrível, na cabeça de Sônia,
pensar que mulheres se deitavam com um estranho e permitiam serem fotografadas.
“<i>Mas nem ao menos se depilou essa...
Hunnn... Gorda! ... e essa pinta, gente? ... Nossa! Que grande</i>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No fim da página, quase que como
um desafio despretensioso, o dono do site dizia algo como “<i>Gostou? Agora quero gostar de você</i>” e deixava um endereço de e-mail
para aquelas que quisessem ser fotografadas por sua lente. Sônia, que estava
com o notebook sobre suas pernas cruzadas no sofá, espreguiçou o corpo para
trás e, com a mão por entre os curtos fios de cabelos vermelhos, olhou para
janela e pensou. O sorriso rapidamente foi substituído por um ar sério e
culposo, que não durou muito tempo e voltou a se derreter entre dentes e
pensamentos enquanto mordia a unha vermelha perfeitamente pintada.“<i>Nunca ninguém vai saber e, pra ser bem
sincera, acho que este e-mail nem existe mais</i>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O Vinil do Chico que tocava
terminou junto do “e</span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-indent: 35.4pt;">nter” corajoso e desafiador de Sônia que enviou um e-mail
desacreditado para o dono do site.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>“Sônia. 41 anos. 1,76 de altura e 69kg. Cabelos curtos e vermelhos. Te
encontro em frente à padaria da Rua Almirante Turvo. Hoje, às 15h.</i>”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sônia duvidava da existência
daquele endereço de e-mail e sabia que o horário marcado, 40 minutos depois do
seu “enter” corajoso, seria minimamente o empecilho existente para que nada
daquilo pudesse acontecer e assim finalizar seu dia suado de imaginação. Teria
sido assim, não fosse a notificação de e-mail que subiu ao lado direito da tela
dizendo: “Combinado, te aguardo lá Sônia”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Gargalhou. Sônia, apenas
Gargalhou. Acostumada a obedecer, levantou-se do sofá, lavou o corpo, ria com o
rosto molhado e ria mais enquanto secava o cabelo. Saiu de casa e trancou a
porta rindo. Parou em frente à padaria e só riu. Ainda não sabia como e porque
tinha chegado até ali. Mordeu novamente a unha vermelha e parou de rir ao ver
ao longe um menino... Seus cabelos cheios, seu queixo levemente barbado, a
câmera pendurada no ombro, a pele branca, a camisa marrom de bolinha branca, o
jeans preto desgastado e o sorriso “<i>Sônia?</i>”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Andaram por umas quatro quadras,
ele muito tranquilo, falante, contava rapidamente do quanto tinha gostado de
receber o e-mail dela e perguntava coisas que mulheres gostam de responder,
como se soubesse lidar com a tensão sufocante que fazia Sônia responder tudo
muito rápido e seco. Ao entrar pela porta que se adiantava aos três lances de
escada, comentaram da coincidência de morarem tão próximos e isso fez com as
pernas de Sônia automaticamente retornassem para a calçada, desejando voltar para
o sofá quente e curioso daquela terça. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">“<i>Vem</i>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sônia teve a sensação de que quem
falava era a mão firme, mas não forte, que segurava seu braço e assim retomou
às escadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E foram poucas perguntas e muitas
poses e posições. Lábios úmidos, coxas suadas, pelos arrepiados, lentes
embaçadas, mãos, cabelo, pernas desfocadas, hastes, flashes, closes... Com a
luz vermelha ligada, ele saiu nu do quarto de revelação e disse: “depois do
vermelho, a tua vermelhidão é minha arte” e entregou para Sônia uma fotografia em
que estava ela, de costas, mostrando as três pintas de cor marrom que tinha na
nuca e que formavam, junto do repicado vermelho de seus cabelos, a arte dele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sônia não sorria. Caminhou em
silêncio pelas quatro quadras. Depois de abrir a porta e zanzar pela sala, deixou
a bolsa no sofá; ligou novamente o disco do Chico e debruçou na sacada. Olhou
para a noite quente que começava a surgir, fitou o céu avermelhado e pensou. Dessa
vez sem sorrir, descobriu que não era culpa o prazer que sentia ainda pelo seu
corpo, agora registrado e publicado. Descobriu que não tinha traído seu marido,
que não tinha traído sua família... Percebeu que para além de uma traição, havia
encontrado sua cor. Agora, recostada na sacada, ouvindo a porta da sala abrir,
anunciando a chegada da família, descobriu, ao se deixar fotografar, tudo aquilo que existia no mundo e que ela não podia ter.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">“Te perdoo por te trair”.</span><o:p></o:p></div>
Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-81765749593092197602014-01-01T14:12:00.003-08:002014-01-01T14:12:46.485-08:00Sabe quando meio atrasado com a vida (Vencedora do 3º lugar do concurso de poesia da biblioteca da Unesp de Bauru)<div class="MsoNormal">
Sabe que ando meio atrasado com a vida<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
São tantos papéis perdidos e amontoados <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
No criado mudo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A luz da mesa tem piscado ultimamente<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E meio sujo de café e embatumado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
De cinzas de cigarro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
As coisas têm se acumulado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Falta folha e caneta<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sobram pensamentos borrados<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Já são dez horas da noite e o relógio<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ilógico grita da prova de amanhã<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Preciso de uma resenha<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Uma gaveta vazia<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Pra ver se me ponho em dia.<o:p></o:p></div>
Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-13658869406194729772012-11-17T08:00:00.000-08:002013-09-05T19:45:11.302-07:00Quadros Cegos<div class="MsoNormal">
Se houvesse cores<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
talvez elas fossem azuis<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
como sempre o sinto azul<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e apenas sinto e sei o que sinto<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Talvez amarelas</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
assim como seu assovio pela janela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eu na tua cantoria<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
gosto de me sentar em teus sons<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e lembrar do vento dos teus braços<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
da imensidão de me aninhar sob teus carinhos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e a liberdade do teu abraço<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- um sol de domingo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Verdes...</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e quando eu penso em dizer adeus<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
me lembro dos teus olhos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e mergulho fundo em seus aquários<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
vivendo meus sonhos e os teus suspiros tão longos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E é no som, no tato, deitado sobre meus lábios<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
que você e eu nos perdemos no infinito da vida<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
ao tom de uma nota incolor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Se houvessem cores... mas elas não existem<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e assim sigo, te sentindo, te ouvindo,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e te amando no escuro dos meus olhos esbranquiçados.<o:p></o:p></div>
<br />Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-21283215960312712762012-11-08T14:02:00.003-08:002012-11-08T14:03:15.480-08:00<span style="color: #333333; font-family: lucida grande, tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: large;"><span style="line-height: 14px; white-space: pre-wrap;">Tristeza maior é a solidão que vem na distância do que acompanha.</span></span>Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-57005734895471157002012-10-18T05:54:00.005-07:002012-10-18T05:55:37.712-07:00Crônica do que termina mas não se vai<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Era uma quinta-feira tranquila, o céu estava azul e o sol estava quentinho, desejando bom dia àqueles que lhe sentiam. Foi quando de repente, em meio ao silêncio barulhento das maritacas, que uma ambulância cruza o estacionamento abaixo da minha janela do quarto, pedindo passagem aos carros estacionados, pois precisava socorrer alguém. Surpresa a minha que essa pessoa era uma senhora do meu bloco. Assim se deu a cena, uma ambulância que já preparava todos os aparelhos insistidores de vida, bombeiros desamarrando escadas e pés-de-cabra e mulheres histéricas que ecoavam em um pranto, talvez de fato humano, o desespero por uma senhora que até então não havia dado sinal de vida, não havia aberto as janelas e não atendia nem à porta nem ao interfone. Ela estava morta.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Após muita discussão e estratégias traçadas para que se decidisse a forma de socorre aquela senhora, agora companheira do inevitável fato da vida, um último contato foi tentado. Se fosse meia noite e a lua estivesse coberta por nuvens, esse seria um cenário de história de terror, mas não, era uma quinta-feira de manhã e tal qual a tranquilidade com que ela se iniciara, a senhora atendeu a porta de camisola e com cara de sono apenas disse: bom dia!</span>Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-4830453387079876592012-08-30T18:40:00.000-07:002012-08-30T18:40:00.822-07:00Refração<br />
<div class="MsoNoSpacing">
E no fim das contas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Todo aquele sentimento que existia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Continuou existindo e se tornou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Parte necessária de ambos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
E agora num algum <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
vejo cruzar o restaurante<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Seus olhos engraçados<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Na fila do teatro, um outro <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
com seu jeito de andar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
No braço de qualquer violão<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Seu sorriso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
De tantas frações de você<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Eu que se quer te conheço por inteiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Tenho no fim da equação<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Aquilo que me é verdadeiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Quando todas as palavras foram ditas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
E quase todos os sentimentos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Aqueles que por agora nos são possíveis<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Foram sentidos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
Não há hora perdida que não valha sentir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
E na dúvida do certo e errado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
quero mesmo é me deitar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
nesse resultado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
e saber que nossa luz é refração<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
de mil histórias pra se contar.<o:p></o:p></div>
Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-58150938162208270872012-05-17T11:37:00.002-07:002012-06-16T10:34:25.151-07:00<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">São
todas essas coisas que se findam<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Sendo
acabadas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">e
são todas essas coisas que se enfincam<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">sendo
eternas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Nesse
descompasso entre o que termina<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">e
o que culmina e o que se inicia e o que fica<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">é
que eu lamento por aqueles que não sofrem como eu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-10481157090402486492012-04-10T12:53:00.001-07:002012-04-10T12:53:47.371-07:00<div>Para além de toda paisagem</div><div>que há em torno de mim</div><div>e pela saudade do sol</div><div>do frio e do vento</div><div>faço o sinal da cruz e parto</div><div>a caminho de mim mesmo</div>Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-20854917768099284162012-03-26T20:58:00.004-07:002012-03-26T21:02:47.113-07:00História d'águaE o outro, sentado no canto do quarto<div>rescindido ao seu corpo nu</div><div>olhava sobre a cama</div><div>um corpo quente e adormecido</div><div>donde da linha da barba brotava</div><div>a veia como um rio inteiro</div><div>descendo pescoço abaixo</div><div>invadindo o peito</div><div>norteado pelo risco da pele.</div><div>No pelo avesso</div><div>se via o sentimento minando</div><div><span style="font-size: 100%; ">água viva, da fonte à foz.</span></div><div>Foi sob a pele líquida</div><div>que surgiu a dúvida talvegue se homem ou mulher.</div><div>E o outro, sentado no canto do quarto</div><div>ressentido em seu corpo nu</div><div>aguava seu peito no aguardo</div><div>do fim do tempo sem marca</div><div>de sua estiagem</div><div><br /></div>Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-90268082856239846312012-02-23T11:01:00.000-08:002012-02-23T11:02:37.974-08:00O sol fez seu trabalho<p class="MsoNormal">Não havia mais palavras<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal">Nem pensamentos ou esperança<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal">Não havia mais de mim em ti<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal">Nem eu, nem Maria, nem lembranças.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal">O outono chegou mais cedo esse ano<o:p></o:p></p>Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-66182982358182007182012-01-26T10:55:00.000-08:002012-02-06T12:33:46.978-08:00A flor que restava<p class="MsoNormal" style="text-indent:35.4pt">Debruçada no parapeito de barro, Miranda observava mais um dia, que escorria como se o tempo fosse passando e passado, ensopado na roupa do varal que não seca, Mirava e só.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.4pt">Era uma moça de corpo fino, mas não elegante, tinha em uma das mãos a firmeza do campo e na outra a incapacidade de apontar, não era bonita, tinha as pernas duras e marcadas e nos pés apenas o chão que pisava. Da janela, via o tempo escorrer e no fundo do pensamento, sem saber que pensava, sentia injurias e arrependimentos alheios, arrependida da chuva que outros pediram. Enquanto seu pai, meio adormecido na cadeira vermelha da cozinha, resmungava a falta de milho da estação enchuvarada, a vó cutucando com um garfo o braseiro do fogão explicava “o povo perdeu tempo demais com reclamações erradas, agora aguenta o choro de Deus desgostoso do que fez”.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.4pt">A cor de terra seca que Miranda tinha combinava com seus mirantes cor de flor de umburana, era coisa mais bela que tinha, era a única flor que havia sobrado no sertão, era a última esperança que ainda floria. E sorria, pois achava bonito de imaginar que os cobreiros estariam todos alagados e as rolinhas entediadas cambaleando num galho seco qualquer. Não tinha inocência, não era mais criança, mas sofria a dura tristeza de não ter algo que lhe fizesse mulher, era perdida em si mesmo, em seu tempo.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.4pt">Debruçada no próprio peito, Miranda contava em gotas as batidas fracas e melosas de seu Roberto na vitrola, enquanto lá fora o Homem aprendia que seja o sertão seco ou rio corrido, que o milho nasce apenas em seu tempo correto.<o:p></o:p></p>Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09256974916800688421noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-86599370788119763422011-08-31T07:05:00.000-07:002011-08-31T07:06:16.458-07:00Sentado em um café qualquer, nem tão ensolarado, ao sentir o cheiro frio que cruzava a esquina tomou o cardápio. O homem entendeu que só ama. E pela primeira vez sentia-se razão no coração e pensava-se emoção.Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-66605137749138161912011-08-14T16:15:00.001-07:002011-08-14T16:15:13.892-07:00Me diz quais carinhos me levam até você?
<br />Eu já estava lá, diante os pinheiros, em frente a placa amarela
<br />Da ultima curva da estrada
<br />E me perdi diante o azul que se estendia na minha frente.
<br />Então me diz quais os vestidos, quais os destinos
<br />dependurados ao sol eu devo usar quando for te encontrar.
<br />Eu que pintada de claridade, deitei sobre o asfalto escuro
<br />me deixei levar pelas tuas trilhas, profundas e florais
<br />Estou parada, a beira da estrada esperando você passar
<br />Pra me dizer, quais caminhos me levam até você?
<br />Me diz quais caminhos me levam até você?Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-87490771901765145482011-08-01T15:28:00.000-07:002011-08-01T15:36:02.505-07:00que seja justo os ouvidos dos que ouvem as preces<br />dos injustiçados<br />e que na pressa de uma breve fé<br />esteja cravado em carvalho a lealdade de um amor infinitoLucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-13400650212511831902011-07-12T21:50:00.000-07:002011-07-12T21:55:55.014-07:00O bêbadoE o homem abraçou-se a si mesmo<br />Deitou a cabeça sobre o descanso do dia<br />E fez sua travessia.<br />Quando num outro portão<br />Abriu os olhos e percebeu<br />Que estava aos pés de si<br />e em si procurava<br />O último bilhete...<br />Mastigou a noite passada sobre a língua seca<br />Esfregou a áspera barba mal feita<br />E numa desfeita com seu leito<br />Partiu para o próximo deleite<br />Cambaleando carente para seu próximo abraço.Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-32156318195024182822011-05-13T13:39:00.001-07:002011-05-13T13:40:14.508-07:00"Sing it for the world"Mas como?<br />Como cantar ao mundo<br />o que você próprio não ouve<br />quando as palavras, letras e notas<br />não encontram o som preciso pra cantar<br />aquilo que se sente.<br />E isso tudo fica preso<br />essa alegria que chega doer<br />é uníssono com essa angústia sem melodia.<br />Não há sinfonia que explique a sensação<br />de sentir algo insensível.<br />Cantar ao mundo, para os homens e as mulheres<br />cantar até enlouquecer aquilo que te aperta o peito<br />botar pra fora esse peso, essa passagem, essa vida.<br />Isso não deveria soar como tristeza<br />e me desculpem se os faço chorar<br />mas, é que um sentimento quando é insensível<br />dói como se fosse a primeira dor da vida.<br />Não tem explicação. Não tem razão. Não tem origem.<br />Só queria que fosse possível<br />que tudo se acabasse numa simples canção.Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-38259902491668038472011-05-04T07:15:00.000-07:002011-05-04T07:20:14.969-07:00O tempero de quê?Eu diria que teria sido em Istambul, pela sua cor amarela, pelo seu cheiro de cravo pela poesia, mas não...<br /><br />Eu conheci um homem que tinha, entre suas predileções, no toque dos dedos o sabor de todos os cheiros, conhecia através da textura de um tempero o solo de um país distante e o gosto de toda a gente que lá vivia. E ele me ensinou coisas sobre o tempero que damos às comidas, e a forma como se deve saborear a vida. Disse, assim como quem prepara uma fatia de pão para dar a um amigo, que através de petiscos e pequenas refinarias culinárias, que tudo se inicia por uma bela e saborosa entrada, que ao se convidar o paladar de alguém para palavriar sabores oferecemos pelo leite e pelo o açúcar, pela mãe e pela mão, pelo o amor e pela flor, um charmoso sorriso indecente da vida; é na entrada de uma refeição que proporcionamos e preparamos a língua para experimentar os sabores, calores e texturas de uma bem temperada refeição principal, como qual uma viagem, o antepasto seria o desejo de viver uma aventura inexplicável.<br /><br />E no continuo movimento dos talhares, adentraríamos às pratas maiores para consumir a infinidade de temperos, odores e dores de tudo aquilo que envolve uma longa e complexa refeição, com seus grãos, com seus molhos, exageros e aguçadores sentidos. A refeição principal seria o beijo molhado pela boca adoçada pelo leite e pelo açúcar, reinventados na mãe e no amor, na mão e na flor.<br /><br />E quando satisfeito, quando o corpo pede um descanso pra tanta gastronomia, quando os barulhos naturais daquilo que passou e continua passando em movimentos necessários para a vida, a sobremesa se serviria como se quisesse ensurdecê-lo, como se te conquistasse a boca, tranqüilizasse o corpo e te fechasse os olhos num prazer momentaneamente infinito... o descanso dos deuses, um manjar de coco.<br /><br />Eu diria que teria sido em Istambul, na Itália, em Portugal ou no Brasil... mas a comida que me servem passa por dentro de mim. E hoje eu sou o leite das tuas bocas, sou o resquício dos teus aperitivos, almoço e janta passada, o contínuo caminho peristáltico da vida “não olhe pra trás” disse-me esse homem. Não olhe mesmo e não se esqueça de falar dos próximos países que irá visitar... O sabor inexplicável do universo é o sentido maior, mas para tal precisará entender que pimenta, cravo, canela fazem parte do tempero que dará o dom e o sal para sua e só sua Receita Fundamental. Bom apetite!Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-50880205396892774402011-04-02T08:14:00.000-07:002011-04-02T08:15:39.714-07:00Aula de PoesiaO jardineiro diante a terra batida<br />abateu-se com a falta de chuva...<br /><br />O jardineiro veste sua roupa de sempre<br />afofa aquela sujeira natural<br />molha, planta e espera...<br /><br />Ao nascer final da flor<br />no toque de sua recolhida<br />às mãos está a essência da beleza<br /><br />Sinta.<br /><br />Das letras estão o perfume, o toque e a cor<br />deixe os dedos para as mãos do jardineiro.Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-1855345202207620502011-03-21T08:12:00.001-07:002011-03-21T08:18:41.570-07:00de carroVamos lá...<br />senta. fecha. trava. liga. primeira.<br />tenta. afoga. xinga. liga. primeira.<br />segunda. terceira. quarta. quinta.<br />conversa. canta. conversa. silêncio.<br />árvore. boi. p..... buraco. xinga. esquece.<br />nuvem. verde. trilho de trem. po.... barbeiro. xinga. esquece.<br />sol. luz. gente simples. poe... ultrapassa. esquece.<br />vento. caminhos. planícies. poes.. pedágio. esquece.<br />lembranças. tempo. carinho. poesi. cheguei.<br /><br />Eh! saudade do tempo que eu tinha tempo<br />pra viajar...Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-83175924802376253322010-12-13T19:42:00.000-08:002010-12-13T19:45:14.612-08:00Bodas de Safira- Pode falar agora?<br /><br />“E, entre os dois, a ideia de um sinal, traçado em luz...”<br /><br />Ah eu não tenho muito do que reclamar, sabe? Não muito, por que um pouquinho a gente sempre tem né, a reclamância dá gosto pra coisa! Quarenta e cinco anos de casa, com casa e bem casada com o mesmo amor da minha vida e digo mais, nunca precisei se quer espichar o olho pra qualquer outro rapazote que me desse chance. E foi sempre assim, eu e ele, a viola dele e a minha gatinha, as flores dele e as minhas receitas, tudo assim, abençoado e saboreado por Deus, que nos proteja sempre, amém!<br /><br />“A tarde dói... de tanto igual.”<br /><br />A gente se conheceu era tudo mocinho, sabe? Meu sonho era encontrar um amor como aqueles que a gente se lia em livro, bonito, que parece bordado em renda holandesa de tanta flor que o romance enfeita, mas num acontece né menino, cê sabe como é né? A poesia é os traço delicado de tinta que pinta a cor dos olhos, e na maioria das vezes a gente leva uma vida cega. A gente se olhou, eu virei pro balcão e fiquei esperando minha bebida, quando eu olhei ele não tava mais lá onde eu tinha visto, não. Mas, pra minha surpresa, ele tava sentado bem do meu outro lado, parado com uma cara de assustado que dava medo... Eu? Ah eu devia tá com a cara mais assustada que a dele, foi a primeira vez que eu senti a leveza de um bordado holandês. Foi a primeira vez que eu senti borboletas na barriga. Ele perguntou meu nome e eu disse! Eu perguntei o dele e ele respondeu: Planura! O bicho tava tão nervoso que mal conseguia falar direito, falou onde morava no lugar da graça que tinha, o que teve sua graça; Eu que já tinha me encantado por aqueles olhos escuros e assustados, chamei o garçom e pedi algo que pudesse deixar ele mais tranquilo e aí depois disso o depois se tornou agora e a coisa toda aconteceu acontecendo por quarenta e cinco anos bem casados e repousados nas mãos de Deus, que nos proteja sempre, amém!<br /><br />“Que luz que faz...”<br /><br />Lembro que quando ele foi conhecer meu pai, ele chegou vestidinho com um terno que eu nunca tinha visto. Mais velho que os pano que a minha mãe usava pra limpar a casa, mas tava formoso, com o cabelo penteado de lado e uma sacola na mão, trouxe trufas pra sobremesa da janta... O meu pai? O meu pai já foi logo de bica soltando um “chocolate pra adoçar o que, rapaz?”, mas tudo se deu bonito, ele teve a sorte do meu pai ser professor de biologia da escola de ensino médio da cidade e gostar tanto de flor quanto o próprio que era dono de uma floricultura lá na cidade dele. Ele me chama de “minha flor” até hoje. Inclusive nosso casamento foi o “casamento mais florido que a cidade já viu”, saiu no jornal. ... Pra que falar de problema se a vida foi muito mais bela do que feia? Menino, entende uma coisa, tamarindo é azedo, mas é você que escolhe chupar ele ou não, entendeu?<br />“Mas, a voz diz...”<br /><br />A Alice é minha gatinha desde tempo de moça, ganhei do meu primeiro namorado, ele não faz ideia disso ... Vixe é mesmo, vai fica sabendo agora! Ah, fica tranquilo, nosso nó tá mais do que bem dado já! Ele tem muito medo de borboleta, sabe? O que de certa forma chega ser engraçado, porque um homem que mexe com flor não podia ter medo das suas damas, pois tem. Pelo contrário, Alice adora uma borboleta. Tava pensando, borboleta é um bicho que tá sempre na nossa história. Ele morre de medo, a gata gosta de brincar e eu, eu sinto elas na barriga que nem da primeira vez, todo dia, quando o portão abre as 18h da tarde. Não sei dizer por que e prefiro nem saber por que, tá tão bom do jeito que tá, elas se avoam todas dentro de mim, deve ser daí a leveza do meu amor.<br /><br />... Ah, o resto de tempo que Deus, que nos proteja sempre, amém, puder dar vida pra nós dois. Eu tive um filho só, um filho bem tido, daqueles de encher de orgulho o peito da gente, cheio de problema que nem o pai dele, que nem eu, mas quem não tem problema? Só sei que dos problemas que ele me deu, os mais gostosos passavam o domingo correndo, outro sempre arrebentava as corda do violão do avô dele e a outra gostou sempre muito de jogar bola... Três netos, uma molecada linda de dar gosto, dois menino e uma menina. Do resto, não tenho do que reclamar muito não. Até porque eu to véia, e a minha pouca reclamância é charme da minha idade E só peço aos céus a força final, o ultimo tranco pra dar conta de sentir que eu passei por essa terra e que to indo embora dela com as unha suja, do resto, eu vou ser feliz.<br />“Motriz...<br />Matriz....<br />Motriz...”<br />- Corta!Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-45599895324312111982010-11-27T18:32:00.000-08:002010-11-27T18:39:56.144-08:00Amor de pai e filhoDa lasca da madeira, ouvia o insistente compassar de dentro da casa.<br /><br />Os cômodos vazios suspiravam um ambiente que tinha na lembrança recente dos tintilares de garfos e facas e elogios saborosos em relação à comida, que ainda se mantinha na mesa e em perfume no ar, o ultimo estrondo da porta. Ao longe se ouvia um gemido baixo, um choro fraco que molhava os lençóis azuis do ultimo quarto do corredor. Paulo.<br /><br />O rodapé era sempre enfeitado com uma bola de capotão encardida, pelo tempo, que ganhara no seu primeiro aniversário. Gostava de se deitar no chão frio do quarto, sobre o tapete branco que combinava com a única parede azul, excluída pelas outras três brancas que se erguiam imponentes em número maior. O rádio preto sobre a cômoda branca “deve ser o contraste do que eu ouço com o que eu visto” – pensou certa vez quando com os pés em cima da cama olhava para o teto decorado com estrelas e planetas fluorescentes. Um estudante completo, um artista perfeito, um neto exemplar, um filho escondido. Paulo.<br /><br />“Para Evandro, você não tem noção do que você está falando, o menino chegou tarde em casa como chega todo final de semana. Evandro olha pra mim, eu to falando com você. Eu não te entendo mesmo, você pagou dois anos de terapia pra ele deixar de ser tímido, pra que ele fosse um garoto normal como qualquer um da idade dele e agora tá fazendo isso. Evandro, onde você vai? Evandro? Evandro vem aqui...”<br /><br />Sempre havia freqüentado os melhores colégios da cidade, sempre havia vestido as melhores roupas do shopping, sempre havia sido o melhor amigo da sua mãe. Gostava de futebol, mas não apreciava, era fanático pelo seu time do coração, ou do coração do seu pai, só jogava na escola. É aquele garoto típico de rodinhas, está sempre cercado de meninas, do tipo engraçado, meio desengonçado, quase que bem formado – um adolescente como outro qualquer.<br /><br />Trancado no quarto externo da casa, onde empilhava caixas de ferramentas e coisas que não usava mais, o pai, Evandro, filho de Mãe largada, irmão primogênito e mecânico da mais influente oficina de tratores da região, olhava pro chão procurando entender suas últimas palavras, talvez encontrasse entre as pedras caídas entre as caixas empilhadas a dureza das últimas palavras tremidas que havia expelido.<br /><br />“Você acha que eu sou um monstro, um monstro desse tipo que se vê em filme na TV. Mas você nunca vai me entender, você nunca vai entender o que sinto... Minha vida nunca foi sessão da tarde Mulher, eu trabalhei deus de cedo e nunca tive tempo pra ficar de papo na rua. Mas aí o que acontece? Você casa, tem filho e quer dar tudo aquilo que não teve e ai numa mesa dum domingo de Deus, na hora do almoço você me fala uma desgraça dessas como se estivesse falando de algo normal? Toma vergonha nessa tua cara seu...”<br /><br />As mãos rápidas recolhiam o resto de arroz ao pé da cadeira, enquanto da boca saltava qualquer oração baixa, dessas de coração de mãe, pedindo ajuda para saber usar da força que lhe são natural. Ela era a terceira filha de três. Filha de velhos aposentados. Dona de casa e fã de programas de culinária; vivia de sonhos e outros doces de festa.<br /><br />“Paulo abre a porta meu filho? Tenta entender seu pai, é outra criação, você sabe que ele te ama e não falou aquelas coisas por mal! Eu sei. Eu só queria te dizer que ele te ama filho... Não fala isso Paulo, você também não sabe o que tá dizendo, é um descontrolado que nem o seu pai como se fosse adiantar numa hora dessas os dois ficarem trancados dentro do quarto como duas crianças pequenas e eu tenho que ficar aqui no meio como se eu não tivesse desesperada com essa coisa toda meu deus eu não sei eu não sei meu deus”<br /><br />Do último quarto do corredor ouvia-se escorrer e pingar nos dedos inquietos dos pés sobre o tapete branco, um risco fino de desespero, aquele choro de quem não pode ouvir mais sua música favorita em seu rádio preto. Da ultima porta do corredor se ouvia escorrer e pingar sobre o avental, delicadamente bordado de azul e rosa “domingo”, um risco preto de maquiagem de terceira que dividia o peito num choro de mãe, num choro de medo. No fundo do quarto externo, ao lado de uma caixa aberta, ouvia-se escorrer e pingar sobre os dedos estendidos da mão, um risco branco de um gozo proibido das páginas de todos os homens que moravam empilhados naquele canto.Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7598033527419014657.post-42592021335168087832010-11-26T09:08:00.000-08:002010-11-26T09:09:53.557-08:00Eu escrevi um poema triste (Quintana)Eu escrevi um poema triste<br />E belo, apenas da sua tristeza.<br />Não vem de ti essa tristeza<br />Mas das mudanças do Tempo,<br />Que ora nos traz esperanças<br />Ora nos dá incerteza...<br />Nem importa, ao velho Tempo,<br />Que sejas fiel ou infiel...<br />Eu fico, junto à correnteza,<br />Olhando as horas tão breves...<br />E das cartas que me escreves<br />Faço barcos de papel!Lucas Pessoahttp://www.blogger.com/profile/09192647195361343701noreply@blogger.com0