quarta-feira, 28 de julho de 2010
Dia de Médico
O que é a covardia? Eu li num certo lugar que essa qualidade (?) pode ser definida como um vício que, convencionalmente, é visto como a corrupção da prudência, oposto a toda coragem ou bravura. Vício é uma palavra que quase sempre, pelo menos desde que eu me entendo por gente, é usada em conjunto de qualquer coisa que tenha como conseqüência uma doença, assim, dessa forma eu acabo por entender que segundo esse tal lugar aí, covardia é uma doença! (.......) é, realmente eu tenho me sentido doente! Eu não estou doente, mas é como se eu estivesse, a propósito eu passei os longos e vastos dias de julho assim, meio de cama. Não que eu tenha perdido muito tempo deitado em uma, pelo contrário, até que eu pareço um garoto saudável; sorriso bonito, olhos iluminados (?) e uma boa coloração de pele, o problema parece ser por dentro mesmo, o que acaba por piorar o estado clinico de saúde. Num desses dias pra trás eu fui numa médica Drª Ana Maria Marcho, foi meio tenso porque de todas as perguntas que ela me fazia todas eu respondia que sim. “Você se sente amargurado?”, “Você se sente triste?”, “Incapaz?”, “Inútil?”, “Você por acaso tem sentido um peso como se não fosse conseguir levantar da cama?”, “Você tem dormido bem?”, “Você tem dormido?”, “Você tem sentido desanimo?”, “Você tem se sentido descrente?” e depois de estar tão cansado de tantas afirmações ele me perguntou “Você tem sentido?” e eu respondi
não!
Ali naquele momento eu me questionei: porque até então eu estava dizendo que eu estava sentindo um monte de coisa e aí quando ela, a Drª, me perguntou se eu sentia, eu disse, abruptamente, como se fosse um bêbado que regurgita tudo aquilo que ele afogou com um porre de pinga: Não! E ela ficou me olhando com uma cara de assombro, com cara de cientista quando acabou de descobrir uma nova espécie ou uma nova doença. Eu fiquei sem graça, coçava a barba mal feita, esfregava as mãos na calça, como se quisesse limpa-las de alguma coisa muito fedida e não conseguia mais olhar pra ela. Até que ela “Criatura, filho, amigo, você tem sentido?” e completou “se for preciso eu te oriento, mostro uma saída, o sentido que você tem que tomar, mas eu não posso sair daqui agora e você vai precisar ir sozinho”. “Entre por essa porta agora e diga que me adora você tem meia hora pra mudar a minha vida” foi o sonzinho baixo da caixinha de som da recepção que me despertou, eu olhei pra ela, peguei o remédio que ela tinha descansado sobre a mesa e fui embora, saí correndo!
No ponto de ônibus eu olhava pra minha medicação. Uma caixa normal de remédios, como de qualquer laboratório medley ou eurofarma: Quadrada, com um ar antipático e de poderosa, como se a própria antipatia diante a sua dor já fosse curá-la. “AQUIDENTRO” era o nome do remédio. Caixa branca e amarela, retangular, com uma faixa vermelha escrita em letras farmacêuticas: “Quando vamos rir?” e do lado “indicado para tristezas, angustias, sensação de covardia, incapacidade, sensação de inutilidade” etc. A caixa estava vazia! ... Aquidentro estava vazio.
Sabe que eu procurei uma bula pra tentar entender algo sobre o remédio, pra tentar ver os efeitos colaterais, pra ver o que aconteceria se eu tomasse altas doses daquele remédio. Mas, a caixa estava vazia! Eu tenho me sentido doente, e não são qualquer coisinha as dores disso não. São homéricas, são tenebrosas, provoca febres congelantes e calafrios escaldantes, me dá um tique de tremelique no corpo que eu fico assim ó, horas tremendo todo ... tirando os exageros que me são peculiares talvez as febres e os calafrios não sejam tão intensos assim, se é que chegam existir, e a tremedeira não seja muito além daquilo que eu já tremo naturalmente, HÁ, pois é, eu herdei a tremedeira da minha vó, e ela nem morreu ainda hein!
Mas talvez a covardia seja um vício mesmo, e que afeta a capacidade de pensar por que eu não tenho ultimamente conseguido analisar, refletir, filosofar e desenrolar sobre o assunto. Tenho sentido e ponto. Talvez seja fuga – ah que bom seria se fosse uma fuga como aquelas de TV, cheia de ação, explosões e claro aquelas músicas estranhas que eu adoro ouvir durante o dia em casa, no último volume. Aquele tal lugar, dizia ainda que a covardia é um comportamento que reflete falta de coragem; medo, timidez, poltronice; fraqueza de ânimo; pusilanimidade ou ainda ânimo traiçoeiro. Esse dicionário mais do que informativo é poético, convenhamos; quando eu pensei que alguma pessoa pudesse ser poltroníseca, ou então, não menos diferente da estranheza, tivesse ânimo traiçoeiro – bem que minha vó dizia pra não confiar nem na própria sombra. Pusilanimidade...deve ser algum tipo de pus que sai do machucado da covardia.
Talvez eu esteja doente e meu remédio no momento fosse um pingo de coragem, e não acredito que seja coragem pra conseguir enfrentar os fatos, de tomar atitudes e tudo o mais, porque isso eu até que tenho uma boa habilidade. Talvez eu esteja precisando de coragem de sentir. Porque eu sei do tamanho, da forma e da intensidade da dor – e não só de um hematoma, tenho sentido dores demasiadas por muitas coisas. Hoje eu não quero sentir, não quero não senhor nenhuma pontinha de dor que não seja a garganta ardida de uma pinga. Eu quero dormir em paz, eu quero estar em paz, eu quero paz... Hey moço, onde compra?
*foto do espetáculo AQUIDENTRO da Cia. de Teatro OPOVOEMPÉ
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